Justiça condena o São Paulo a indenizar torcedores do Corinthians pisoteados em tumulto no Morumbi há 15 anos

Clube deverá pagar mais de R$ 100 mil às vítimas — valor atual, já corrigido com juros impostos pela Justiça (acréscimo de 1% ao mês desde a data do acidente). Cabe recurso.

A Justiça paulista condenou, em segunda instância, o São Paulo Futebol Clube (SPFC) a indenizar dois torcedores do Corinthians por danos materiais, morais e estéticos causados por um pisoteamento na saída de uma partida no estádio do Morumbi em fevereiro de 2009. Cabe recurso às instâncias superiores.

O clube deverá pagar mais de R$ 100 mil às vítimas — valor atual, já corrigido com os juros impostos pela Justiça (acréscimo de 1% ao mês desde a data do acidente). Inicialmente, a quantia estipulada era de aproximadamente R$ 18,1 mil.

Procurado, o SPFC informou que não comenta processos judiciais.

Tumulto em clássico

Em 29 de fevereiro daquele ano, as vítimas foram assistir à disputa entre São Paulo e Corinthians pelo campeonato paulista, no Estádio Cícero Pompeu de Toledo, o Estádio do Morumbi, localizado na Zona Sul da capital.

Nos autos do processo, as vítimas (uma mulher e um homem) relatam que, por fazerem parte da torcida visitante, tiveram que esperar cerca de 50 minutos após o término da partida para serem liberados para deixar o local. Quando se dirigiam ao túnel que dá acesso à rampa de saída, ouviram um barulho de explosão, e o tumulto começou.

Segundo o depoimento de policiais militares no inquérito que apurou o caso, artefatos explosivos caseiros, bolas de gude e cadeiras foram arremessados em várias direções durante a saída da torcida corintiana. Um grupo de torcedores teria cercado alguns agentes, que passaram a usar técnicas não letais para tentar conter a situação. Contudo, o tumulto já havia se formado.

Em meio a isso, as vítimas do processo foram pisoteadas. Uma delas teve fraturas em quatro costelas e ficou com cicatrizes permanentes. Já a outra, sofreu uma contusão na coluna cervical.

O SPFC foi condenado em primeira instância pela 2ª Vara da Fazenda Pública da Capital, em setembro de 2022. Para a Justiça, o laudo pericial anexado no processo comprova a relação dos ferimentos das vítimas com o episódio vivido.

O clube chegou a recorrer da decisão, mas teve o recurso negado pela 1ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, na última quinta-feira (18).

Em ambas as instâncias, a Justiça considerou que “é direito do torcedor a segurança, durante e após a realização das partidas, nos locais em que serão realizados os eventos esportivos” e que “a responsabilidade pela segurança do torcedor em evento esportivo é da entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo e de seus dirigentes”, conforme o Estatuto do Torcedor e o Código de Defesa do Consumidor.

“Os fatos ocorreram no ambiente interno do estádio, por deficiência na estrutura de saída dos torcedores, ante pânico e tumulto que houve no local, sem conduta alguma imputável à dinâmica de ação policial com algum elo causal ao ocorrido”, escreveu o relator Vicente de Abreu Amadei, da 1ª Câmara de Direito Público.

“Nas circunstâncias em que os fatos ocorreram, não há como eximir a responsabilidade do apelante (SPFC) e a indenização pelos danos causados aos autores é devida”, completou o magistrado.

Sete anos após o ocorrido, quando uma confusão entre torcidas organizadas resultou na morte de um idoso na Zona Leste de São Paulo, foi instituída a política da torcida única em clássicos paulistas envolvendo os quatro maiores clubes do estado.

Ministério da Igualdade Racial anuncia exoneração de assessora que postou ofensas a torcedores do São Paulo

Marcelle Decothé era assessora de assuntos estratégicos da pasta. No domingo (24), ela postou foto com a legenda: ‘Torcida branca, que não canta, descendente de europeu safade. Pior tudo de pauliste’. Ministério disse que manifestações estão em ‘desacordo’ com objetivos da pasta.

O Ministério da Igualdade Racial anunciou nesta terça-feira (26) a exoneração de Marcelle Decothé do cargo de assessora especial de Assuntos Estratégicos da pasta. A medida foi publicada em edição extra do “Diário Oficial da União”.

No último domingo (24), Marcelle Decothé publicou em uma rede social ofensas contra torcedores do São Paulo Futebol Clube. São Paulo e Flamengo disputaram no domingo a final da Copa do Brasil. A partida terminou empatada em 1 a 1, mas o tricolor paulista se sagrou campeão, porque havia vencido a partida da ida por 1 a 0.

Em seu perfil no Instagram, Marcelle Decothé publicou um story – postagem temporária – com foto da torcida do São Paulo no estádio Morumbi.

A imagem (veja acima) foi acompanhada da seguinte legenda: “Torcida branca, que não canta, descendente de europeu safade. Pior tudo de pauliste”.

Em nota divulgada nesta terça, o Ministério da Igualdade Racial disse ter “compromisso inegociável com a promoção de direitos e com a igualdade étnico-racial, a partir de princípios como a transparência e o cuidado”.

E comunicou a exoneração de Marcelle Decothé, para “evitar que atitudes não alinhadas” com o propósito da pasta “interfiram” no cumprimento institucional do ministério.

Segundo a pasta, as manifestações de Marcelle “estão em evidente desacordo” com os objetivos e políticas do ministério.

“De acordo com esses princípios, e para evitar que atitudes não alinhadas a esse propósito interfiram no cumprimento de nossa missão institucional, informamos que Marcelle Decothé da Silva foi exonerada do cargo de Chefe da Assessoria Especial deste Ministério na data de hoje. As manifestações públicas da servidora em suas redes estão em evidente desacordo com as políticas e objetivos do MIR”, diz a nota divulgada à imprensa.

Repercussão
A publicação gerou indignação entre torcedores do São Paulo e o presidente do clube, Julio Casares, comentou o episódio no Instagram.

Ele afirmou ter sido “surpreendido negativamente com um ultrajante post” da assessora do Ministério da Igualdade Racial.

“Algo que vai contra todas as nossas crenças. Em pouco mais de dois anos e meio de gestão, tivemos sempre uma preocupação com a igualdade. Nosso lema é, e sempre será, de que o São Paulo Futebol Clube é de todos, sem haver discriminação de raça, gênero, social ou de qualquer forma”, disse Casares.

Na publicação, o presidente do São Paulo também cita medidas de enfrentamento ao racismo tomadas pelo clube. Casares também contou que Anielle Franco entrou em contato com ele e pediu desculpas pelo ocorrido.

“Hoje pela manhã, a Ministra da Igualdade Racial no Brasil, Anielle Franco, em contato telefônico, pediu desculpas pelo ocorrido e explicou que medidas serão tomadas. Como presidente do São Paulo Futebol Clube, torcedor, e, principalmente como cidadão engajado nas causas sociais, seguirei na luta para que situações como essa não se repitam”, afirmou Casares nesta terça.

Protocolo contra o racismo
Flamenguista, a ministra Anielle Franco viajou, com uma comitiva em voo da Força Aérea Brasileira (FAB), para São Paulo, onde participou de solenidade de assinatura de um protocolo de intenções para o combate ao racismo e promoção da igualdade racial no futebol.

O protocolo foi assinado pelos ministérios da Igualdade Racial e do Esporte e pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

A cerimônia ocorreu no último domingo, no estádio do Morumbi, onde Flamengo e São Paulo disputaram a final da Copa do Brasil. A partida também marcou o início da campanha “Com o racismo não tem jogo”.