DPCA prende travesti Linda Welsh por aliciamento e exploração sexual de jovens

Linda Welsh, de 42 anos – registrada como Lindomar Fidélis Miranda -, foi detida em sua casa na Vila Bandeirante, em Goiânia, no início da manhã de ontem (01.10). A Polícia Civil investiga o envolvimento do travesti no aliciamento e exploração sexual de vulneráveis e rufianismo (tirar proveito da prostituição alheia) desde 2009. Ela fica presa preventivamente por 30 dias. Linda nega e afirma que apenas oferecia a sua residência como pensão a outros travestis que não teriam onde ficar.

A denúncia é baseada nos depoimentos de três adolescentes, colhidos desde 2009 por três delegadas. Os jovens contaram que foram convidados a morar com Linda na casa da Vila Bandeirante. O travesti multava os moradores da casa à revelia, além de endividá-los.

O caso de exploração sexual de travestis, sobretudo de adolescentes, ocorre quando pessoas de 12 ou 13 anos reconhecem sua sexualidade, mas, por homofobia, acabam sendo rejeitadas na família, escola e demais esferas sociais. Sem apoio do Estado e da família, a opção de se sujeitarem à exploração passa a ser o único método de sobrevivência.

Nesta situação, outras pessoas passam a se aproveitar da falta de políticas públicas para a população lésbica, gay, bissexual, travesti, transexual e transgênero (LGBT), de acordo com a psicóloga Beth Fernandes. Linda, segundo a investigação policial, seria uma dessas pessoas. Ela aliciaria travestis adolescentes para sua residência e cobrava diária de R$ 50 a R$ 100 pelo quarto, que seriam pagos com prostituição, ou seja, parte do valor ganho em programas era repassada a Linda

Cirurgias

Além disso, Linda Welsh prometia arcar com as cirurgias para a transformação das travestis, como a colocação de silicones e demais práticas estéticas. Para tal, Linda pagava o procedimento e cobrava do travesti o dobro do valor, de acordo com a titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), Renata Vieira da Silva Freitas, responsável pelo caso.

Segundo Beth, que é presidente do Fórum de Transexuais de Goiás e coordenadora da Associação de Travestis de Goiás (Astral-GO), essas cirurgias de transformação são todas clandestinas, com riscos à saúde. A clandestinidade ocorre pelo fato de que adolescentes, ainda sem a autorização de responsáveis, passam por esses procedimentos, o que seria contra a ética médica.

Os três travestis que prestaram depoimentos o fizeram após fugir da casa de Linda, mesmo sob ameaças. Um dos métodos de “aprisionar” as pessoas era guardar as roupas, impedindo que os travestis saíssem. Segundo os relatos à polícia, Linda chegou a agredir um deles. Dos três, apenas um deles alega se arrepender de ter feito programas, mas todos se declaram travestis e sem arrependimento das cirurgias.

A delegada Renata Vieira estima, baseado no depoimento dos seis travestis maiores de idade que estavam na residência de Linda no momento da ação policial, que os três jovens não estejam mais em Goiânia. Para Beth Fernandes, é possível que eles sejam explorados por outra pessoa.

Renata Vieira conta que há relatos de outros travestis de que alguns procedimentos estéticos eram realizados com a aplicação direta de silicone, por um travesti chamado Joyce. A polícia ainda não conseguiu identificá-lo. Na casa de Linda, além de outros seis travestis detidos para prestar depoimentos, foram apreendidas fotos de práticas sexuais, máquinas fotográficas, dois computadores, R$ 3.475 em espécie, 10 dólares e cadernos com a contabilidade da casa.

Linda cobrava, nos programas dos travestis, uma taxa para a ida a outros locais, como motéis ou hotéis. A casa é simples, com vários quartos e estruturas que permitiam o serviço de bar. No entanto, Linda e os outros travestis contaram que não eram realizados programas sexuais no local nem mesmo a permissão de que menores dormissem na casa.

Dos seis travestis detidos para prestarem depoimentos, Renata Vieira acredita que dois eram funcionários de Linda, sendo uma empregada doméstica e outra responsável pela contabilidade. Exceto as duas, em depoimento, os demais assumiram ser explorados por Linda e que não conseguiam sair da casa em razão das dívidas com a proprietária.

Prisão em 2006 pela PF

Lindomar Fidélis de Miranda, a Linda Welsh, em março de 2006, foi detida pela Polícia Federal em Uberlândia (MG) por suspeita de tráfico internacional de pessoas. A Operação Tarantela investigou a participação dela no envio de seis pessoas para a Itália, onde eram exploradas sexualmente. Segundo a PF, Linda e Maksuri (José Maria Siqueira Santos) lideravam os pontos em Goiânia e agenciavam travestis em Uberlândia e Belém. Na Itália eram apresentadas a Erika ou Kika (Elias Mota da Costa), que pegava a documentação das vítimas e só devolvia após pagamento de despesas.

PF prende homem acusado de tráfico

O pai de santo Amaro Batista Neto, 55, morador de Araputanga (distante 362 quilômetros de Cuiabá), foi preso por Policias Federais que cumpriam 6 mandados de prisão durante a “Operação Tarantela”, desencadeada contra o tráfico de seres humanos. A operação atingiu Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Goiás, onde começaram as investigações em setembro de 2005.

Batista foi levado para Goiânia. Ele é acusado de aliciar jovens homossexuais, inclusive menores, que mandados para cidades italianas se transformavam em escravos do sexo. As vítimas antes de saírem do Brasil já acumulavam dívidas de 14 mil Euros com os “agenciadores”. Quem não pagava era ameaçado de morte e agredido por outros membros da quadrilha que se estão nas cidades italianas de Milão e Bréscia. Lá, já estão sendo procurados pela Polícia Internacional (Interpol), Elias Mota da Costa, o “Kika”, e Josely Paulista Vieira, a “Érica”, ambos travestis que integram a quadrilha e recebiam as vítimas enviadas do Brasil.

O líder da quadrilha é o travesti José Maria Siqueira, o “Maksori”, com quem os federais localizaram maconha em um abrigo com 9 quartos onde os travestis aliciados ficavam até o embarque para o exterior. Ele foi denunciado no ano passado pelo companheiro Fernando Dutra, depois de uma briga.

Outro mandado foi cumprido em Aparecida do Taboado (MS), com a prisão de Orondina Mota de Jesus, agenciadora, e mãe do travesti “Kika”, que está na Itália. Outro agenciador preso em Uberlândia (MG) é Lindomar Fidélis de Miranda, a “Linda”. Os 4 responderão por crime de tráfico de ser humano, extorsão, corrupção de menores e posse de entorpecentes.

Operação Tarantela: preso em Mato Grosso segue para Goiás

A Polícia Federal em Goiânia informou que o pai-de-santo Amaro Batista Neto foi preso por volta das 7h30 pela Polícia Federal, em Araputanga (300 km de Cuiabá). ELe está sendo levado para Goiânia e a previsão é de que chegue a Superintendência da Polícia Federal por volta das 21h.

Amaro é acusado de aliciar homossexuais para que trabalhem como escravos sexuais em países da Europa. O golpe era tão bem estrutura que as vítimas embarcavam para os países com saldo devedor de mais de R$ 10 mil. A PF possuí imagens de aeroportos em que o Amaro sempre aparece no momento de embarque dos homossexuais.

O tráfico de mulheres e travestis é uma forma moderna de escravatura. Todos os anos centenas são levados de um país para outro, frequentemente da Europa de Leste para a Ocidental, como parte do comércio de seres humanos. Embora o principal objectivo deste comércio seja a exploração sexual, serve ainda como fonte de trabalho ilegal.