Entenda como funcionava suposto esquema pelo qual Jair Renan Bolsonaro é investigado no DF

De acordo com as investigações, eles são suspeitos de estelionato, falsificação de documentos, sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Segundo a polícia, Jair Renan e Maciel Carvalho seriam os donos de empresas que estavam no nome de dois laranjas: Edualdo Alves dos Santos e Marcos Aurélio Rodrigues dos Santos.

“Nesse esquema, eles utilizavam pessoas como laranjas para colocar a empresa no nome dessas pessoas e, assim, fugir de responsabilidades com órgãos públicos ou com dívidas como pessoas jurídicas. Então, era uma forma deles blindarem seu patrimônio, transferindo ou criando empresas em nome de laranjas”, afirma o delegado Leonardo Cardoso, diretor do Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado.
 

A defesa de Jair Renan disse que ele se surpreendeu com a operação e que “está tranquilo”. A defesa de Maciel Alves de Carvalho afirmou que “a narrativa da autoridade não condiz com a verdade, e será esclarecido perante a autoridade competente”.

A defesa de Marcos Aurélio Rodrigues dos Santos disse que o suspeito recebeu a denúncia “com estranheza” e que no momento oportuno irá demonstrar sua inocência.

Após tentativa contato com a defesa de Eduardo Alves dos Santos, que já tinha um mandado de prisão contra ele, mas está foragido.

Segundo a Polícia Civil, o grupo criou uma falsa identidade — no nome de Antônio Amâncio Alves Mandarrari — para abrir contas bancárias e atuar como laranja. “O objetivo final era blindar o patrimônio dos envolvidos”, afirmam os investigadores.

“Um dos suspeitos é justamente investigado por dar vida a esse tipo de pessoa, o que a gente chama de laranja. Ele usou documentos de uma pessoa que nunca existiu. Eles fazem nascer uma pessoa física inexistente. O suspeito continua foragido, e já há contra ele um mandado de prisão preventiva pedido pelo crime de homicídio no Distrito Federal”, diz o delegado Marco Aurélio Sepúlveda Santos, da Delegacia de Repressão a Crimes Contra a Ordem Tributária.

Os alvos também são suspeitos de forjar relações de faturamento e outros documentos de empresas de fachada criada por eles. Para isso, segundo a PCDF, eles usavam dados de contadores – sem o consentimento deles – inserindo declarações falsas para mascarar movimentações financeiras suspeitas entre eles.

De acordo com a Polícia Civil, há possibilidade de que os alvos da operação tenham enviado quantias de dinheiro para o exterior.

“À medida que eles colocam o que a gente chama de laranja para assumir a titularidade ou suceder aquela pessoa jurídica, o verdadeiro proprietário acaba se livrando das responsabilidades perante os órgãos públicos. Isso seria, por exemplo, um crime de lavagem de dinheiro, de ocultar ou dissimular valores, bens. É o que está sendo investigado na presente operação policial”, afirma o delegado Marco Aurélio Sepúlveda.

O mandado contra Jair Renan é cumprido em dois endereços: no apartamento onde ele mora em Balneário Camboriú, em Santa Catarina, e em um prédio no Sudoeste, área nobre de Brasília. Ao todo, os agentes cumprem cinco mandados de busca e apreensão e dois de prisão.

Ao todo, os agentes cumprem cinco mandados de busca e apreensão e dois de prisão. Os alvos são:

  • Jair Renan
  • Maciel Carvalho, amigo e instrutor de tiro de Jair Renan, foi preso
  • Eduardo Alves dos Santos, que está foragido e é investigado por ser “testa de ferro” do esquema
  • Marcos Aurélio Rodrigues dos Santos
Alvo de operação contra Jair Renan Bolsonaro, empresário foi preso em janeiro por fraude em compra de armas

Instrutor de tiro e influenciador digital Maciel Carvalho acompanhou 04 em entrevista e também registrou boletim de ocorrência quando a casa do filho de Bolsonaro foi pichada em Brasília

Considerado principal alvo da operação desta quinta-feira envolvendo o filho do ex-presidente Jair Renan Bolsonaro, o empresário e influenciador Maciel Carvalho foi preso em janeiro deste ano pela Polícia Civil do Distrito Federal, em Águas Claras. À época, o influenciador digital era também o principal alvo da Operação Falso Coach, e investigado pelos crimes de posse, porte e comércio ilegal de armas mediante documentação falsa. No período, a carteira de habilitação do filho 04 chegou a ser apreendida no escritório do influenciador.

Maciel Carvalho acompanhou Jair Renan Bolsonaro em entrevista

Em setembro de 2022, quando a casa de Jair Renan foi pichada em Brasília, foi Maciel Carvalho que registrou a ocorrência na Policia Civil da capital. “Picharam a porta da minha casa em represália não só a minha mãe que é candidata a deputada distrital, que automaticamente se percebe o ódio entregue gratuito a família Bolsonaro”, escreveu em story no Instagram à época.

Em julho do ano passado, o influenciador acompanhou Jair Renan em uma entrevista ao portal Metrópoles. Maciel Carvalho também deu aulas de tiro para o filho do ex-presidente e para sua mãe, Ana Cristina Siqueira Valle. Por dois meses, o filho do presidente fez um curso no clube de tiro para obter o certificado de CAC.

Quem é Maciel Carvalho?

Maciel Carvalho é influenciador. Em janeiro, seu perfil tinha mais de 426 mil seguidores no Instagram, no entanto, atualmente, a conta está restrita. Nas redes, Maciel Carvalho se descrevia como formado em Filosofia, Teologia, Direito e Administração. Atualmente, o influenciador diz que a página está “em construção”.

Carvalho oferecia também um curso voltado para “empreendedores no campo jurídico”, além de divulgar seu trabalho como instrutor de tiro. Em uma postagem de março deste ano, ele comentou sobre a atuação de Jair Renan, afirmando que o 04 teve uma boa “curva de desempenho na linha de tiro”.

Armas nas redes sociais

Em uma série de ocasiões, o filho do ex-presidente publicou fotos nas redes com armas ou atirando em clubes de tiro. Em 2021, durante a CPI da Covid-19, ele mostrou uma imagem com cerca de dez armas e escreveu “alooooo, CPI kkkk”, em ironia.

Em agosto de 2020, o ex-deputado federal Roberto Jefferson compartilhou uma fotografia do filho do então presidente ao lado de seu advogado, Luiz Gustavo Pereira da Cunha: “Nosso advogado é instrutor de tiro credenciado na PF. Tem instruído Renan, Bolsonaro 04. Disse que o garoto é fera”, escreveu.

Abin atrapalhou investigação da PF

Em agosto do ano passado, um relatório da Polícia Federal afirmou que a Agência Brasileira de Inteligencia (Abin), o serviço secreto brasileiro, atrapalhou o andamento de uma investigação envolvendo Jair Renan. Um integrante do órgão, flagrado numa operação, admitiu em depoimento que recebeu a missão de levantar informações de um episódio relacionado ao filho do ex-presidente, sob apuração de um inquérito da PF. Segundo o espião, o objetivo era prevenir “riscos à imagem” do então chefe do Poder Executivo.

Em 2021, Jair Renan e o seu preparador físico, Allan Lucena, se tornarem alvos de uma investigação da PF por suspeita de abrir as portas do governo para um empresário interessado em receber recursos públicos. Àquela época, Lucena percebeu que estava sendo seguido por um veículo que entrou na garagem de seu prédio. Incomodado, o personal trainer acionou a Polícia Militar. O suspeito, quando abordado, identificou-se como Luiz Felipe Barros Felix, agente da PF cedido para o órgão de inteligência. O episódio de espionagem foi registrado em um boletim de ocorrência.

Ao ser chamado pela Polícia Federal para prestar esclarecimentos, Felix contou que trabalhava na Abin e confirmou que recebeu a missão de um auxiliar do chefe do órgão de inteligência. O intuito era levantar informações sobre o paradeiro de um carro elétrico avaliado em R$ 90 mil, que teria sido doado a Jair Renan e ao seu personal trainer por um empresário do Espírito Santo interessado em ter acesso ao governo. “O objetivo era saber quem estava utilizando o veículo”, afirmou Felix, em depoimento.