Empresário se espantou com malas cheias de dinheiro em apartamento

Ele contou que irmão de Geddel pediu o imóvel para pertences do pai

Malas cheias de dinheiro foram encontradas pela PF em apartamento emprestado a Geddel, em Salvador
 

Em depoimento, o empresário Silvio Antonio Cabral da Silveira, proprietário do apartamento em Salvado, onde foram encontrados R$ 51 milhões, e que resultou na prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima, afirmou que se surpreendeu em ver “um bocado de mala cheia de dinheiro” em seu imóvel.

Silveira ressaltou que foi na Polícia Federal por iniciativa própria, “Eu fui na Polícia Federal sem chamamento nenhum, sem advogado, sem ninguém saber o que era, certo de quê? De que tinha livros, quadros, alguma coisa desse tipo. Quando cheguei lá para surpresa minha tinha lá na Polícia Federal um bocado de mala cheia de dinheiro”. Afirmou que não fazia ideia de que seu imóvel era usado para guardar dinheiro, fato que ficou sabendo quando a Operação Tesouro Perdido foi deflagrada.

O empresário contou que o empréstimo atendeu ao pedido do deputado federal Lúcio Vieira Lima (MDB-BA), que havia dito precisar de um local para guardar os pertences do pai falecido. “Quando houve a morte do pai dele, fui ao PMDB prestar solidariedade a Lúcio. Fui embora. Uns 15 ou 20 dias depois, ele me chamou para ir no partido e queria bater papo comigo”.

Então, sem nenhuma formalidade, após consultar seu sócio, Silveira emprestou o imóvel a Lúcio. “Ele sabia da dificuldade que nos estávamos de vender os apartamentos e me perguntou se eu podia emprestar alguma unidade a ele. Eu disse que não tinha problema nenhum, eu ia perguntar ao sócio majoritário, mas acho que não tem nenhum problema. O apartamento (unidade 201) acabou sendo vendido. E as malas e caixas que estavam nele foram transferidas para o 202”.

Silvio Silveira é testemunha de acusação da Procuradoria Geral da República (PGR) no processo que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) que são réus o ex-ministro Geddel Vieira Lima, seu irmão o deputado Lúcio Vieira Lima, Marluce Vieira Lima, mãe de Geddel e de Lúcio. Além de Job Ribeiro, ex-assessor de Lúcio e Luiz Fernando Costa Filho, sócio da empresa Cosbat. Todos os réus são acusados dos crimes de lavagem de dinheiro e associação criminosa.

Operação Tesouro Perdido: PF apura elo entre bunker e desvios na Caixa

Para a PF, as atas da Caixa apreendidas na casa da mãe de Geddel apresentam ‘informações relevantes à investigação’ sobre o bunker em Salvador

A Polícia Federal investiga, no âmbito da Operação Tesouro Perdido, o elo entre o bunker dos R$ 51 milhões atribuídos aos irmãos Lúcio e Geddel Vieira Lima e supostos esquemas de corrupção na Caixa Econômica Federal.

O documento mostra que a Caixa liberou R$ 5,8 bilhões em créditos a empresas investigadas. Do total, R$ 4,4 bilhões foram destinados a empresas da holding J&F. A mãe do ex-ministro, Marluce Quadros Vieira Lima, também é uma das denunciadas na investigação. Os investigadores apreenderam atas da instituição na casa da mãe do ex-ministro, de acordo com relatório a que o Estado teve acesso

A denúncia foi feita em dezembro de 2017 pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, no âmbito da Tesouro Perdido. Geddel, o deputado federal Lúcio Vieira Lima e o empresário Luiz Fernando Machado Costa Filho são acusados de associação criminosa e lavagem de dinheiro. Deles, a Procuradoria cobra R$ 51 milhões. A PF ainda investiga a origem do dinheiro. Um dos caminhos apontados pelos investigadores é o doleiro Lúcio Funaro, que revelou ter levado malas de dinheiro ao emedebista em voos a Salvador, que totalizaram R$ 20 milhões.

De acordo com as investigações, Funaro reconheceu, entre os R$ 51 milhões, maços de dinheiro de um banco ligado à J&F. “Lúcio Funaro informou que os valores envoltos em ligas, com um pedaço de papel onde havia impresso o valor constante do maço de dinheiro, era exatamente como retirava o dinheiro dos seus doleiros e repassava para Geddel”, afirmou a PF no relatório.

Funaro reconheceu ainda ter operado propinas a emedebistas relativas a negócios da Caixa Econômica Federal. Para a PF, Geddel agia na instituição financeira “para beneficiar empresas com liberações de créditos dentro de sua área de alçada e fornecia informações privilegiadas para os outros membros da organização criminosa que integrava”.

O relatório, assinado pelo agente Arnold Mascarenhas, destaca que foi feita uma análise sobre os documentos que levou em consideração investigações anteriores contra o emedebista. “Apesar de ocupar o cargo de vice-presidente de Pessoas Jurídicas da CEF entre abril de 2011 e agosto de 2013, o ex-ministro catalogou também as atas em que foram aprovadas operações com as empresas investigadas nos anos que sucederam a sua gestão”, concluiu.

Em uma das pastas encontradas, há a anotação: “Para a defesa”. Os agentes dizem entender que, apesar de encontrada na casa de Marluce, é “nítido” que os documentos são de Geddel. A PF destaca ainda que “dentre empréstimos, repactuações, e substituição de garantias, o valor global dos valores constantes nas atas encontradas” soma o montante de R$ 28,7 bilhões.

Beneficiada

O relatório identifica que a maior beneficiada entre as empresas encontradas nas atas apreendidas foi a empresa J&F Investimentos. “Lembrando que este foi tão somente o valor aprovado no período em que Geddel Vieira Lima ocupava o cargo de vice-presidente”.

Em nota, a Caixa Econômica informou que está em “contato permanente com as autoridades, prestando irrestrita colaboração com os trabalhos”. Procurado, o advogado da família Vieira Lima, Gamil Föppel, não se manifestou. A J&F, através de sua assessoria, informou que vai se manifestar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.