Julgamento dos réus pela morte de Jeff Machado começa nesta sexta

Começam a ser ouvidas as testemunhas convocadas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), entre elas a mãe e o irmão de Jeff. Ao todo, o MPRJ convocou 18 testemunhas.

Está prevista para esta sexta-feira (27) a 1ª audiência de instrução e julgamento para os réus Bruno de Souza Rodrigues e Jeander Vinicius da Silva Braga, acusados de matar o ator Jeff Machado.

A sessão, fechada à imprensa, foi marcada pela juíza Alessandra da Rocha Lima Roidis, da 1ª Vara Criminal do Rio de Janeiro. Começam a ser ouvidas as testemunhas convocadas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), entre elas a mãe e o irmão de Jeff. Ao todo, o MPRJ convocou 18 testemunhas.

A assistência de acusação, exercida pelo advogado Jairo Magalhães — que auxilia a família do ator —, também convocou uma testemunha para ser ouvida.

Ele quer concentrar suas perguntas para Igor Bello, investigador da Delegacia de Descoberta de Paradeiros que conduziu a apuração do caso.

Réu teve problema com a defesa
No despacho em que marcou a audiência, a juíza negou um pedido da defesa de Bruno Rodrigues para aumentar o prazo para que ele tivesse mais tempo para se inteirar do processo.

A magistrada alegou que os autos do processo são integralmente virtuais, motivo pelo qual seria desnecessário ir a um cartório, como alegou a defesa, e, na ausência de encaminhamentos do réu, indicou que recebesse suporte da Defensoria Pública.

Relembre o caso
Jeff Machado estava desaparecido desde o final de janeiro, e seu corpo só foi encontrado em maio, em um baú enterrado e coberto de concreto numa casa em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio.

O MPRJ ofereceu denúncia, através dos promotores de justiça Alexandre Murilo Graça e Sauvei Lai, pelos seguintes crimes:

Homicídio quadruplamente qualificado (motivo torpe, emprego de asfixia, uso de recurso que impediu a defesa da vítima e para ter vantagem de outro crime);
Ocultação de cadáver;
Estelionato;
Crimes patrimoniais contra o espólio do ator (saques, tentativa de venda do carro e da casa, compras com cartão de crédito);
Invasão de dispositivo eletrônico;
Falsa identidade (por se passar por Jeff Machado);
Maus-tratos aos animais.

Apenas Bruno deve responder por todas essas imputações, já que estava em todas as ações. Jeander é acusado de homicídio, ocultação e maus-tratos a animais.

De acordo com a denúncia do MPRJ, no dia 23 de janeiro deste ano, na casa de Jeff, Bruno ministrou substância entorpecente na bebida do ator, para na sequência estrangulá-lo com um cabo de aparelho de telefone, provocando sua morte.

A motivação para o crime teria sido a falsa promessa de conseguir uma vaga para o ator em uma novela, mediante R$ 18 mil. Após o dinheiro não ser devolvido e a contratação não acontecer, Bruno matou a vítima.

Dias depois do homicídio, a investigação demonstrou que Bruno utilizou a senha do cartão de crédito dele para efetuar compras em estabelecimentos comerciais e anunciou a venda do carro da vítima em agências de automóveis. Houve ainda invasão ao telefone da vítima, onde se passou por Jefferson.

A denúncia descreve também que os acusados praticaram maus-tratos contra animais domésticos ao abandonarem oito cães de raça pertencentes ao ator, em um terreno vazio, sem alimentação e cuidados de higiene, quando dois morreram e um desapareceu.

Suspeito indiciado pela morte de Jeff Machado confessou a ocultação do corpo do ator, diz polícia

Jeander Vinícius da Silva Braga depôs na sexta-feira (26), na Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA), e contou que foi obrigado por uma terceira pessoa a colocar e transportar o corpo em um baú.

O nome de uma pessoa que não tinha sido revelado pela polícia na investigação da morte do ator Jeff Machado, de 44 anos, está entre os dois indiciados pela Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA) por homicídio e ocultação de cadáver nesta quarta-feira (31). A delegacia também pediu sua prisão à Justiça.

Trata-se de Jeander Vinícius da Silva Braga, de 29 anos, que depôs no caso na última sexta-feira (26), e confessou participação na ocultação do corpo de Jeff. No entanto, ele foi indiciado também por participação no homicídio, e não só pela ocultação do cadáver.

De acordo com trecho de depoimento dado à DDPA, e a que o g1 teve acesso, Jeander e Jeff teriam se conhecido em um aplicativo de encontros e, no dia 23 de janeiro, o homem teria ido à casa do ator.

Versão do suspeito
Lá, eles estariam acompanhados de uma terceira pessoa. Em dado momento, Jeander teria ido tomar banho, onde teria ficado por 15 minutos. Ao sair, teria encontrado Jeff deitado na cama, com um fio no pescoço, já morto.

A terceira pessoa, segundo o depoimento de Jeander, e que não é Bruno de Souza Rodrigues, o outro suspeito do caso -, teria dito que “é isso que faz com quem passa HIV para os outros”.

A partir desse momento, Jeander teria sido obrigado por essa terceira pessoa a participar da ocultação do corpo de Jeff, colocando no baú e transportando-o para Campo Grande, na Zona Oeste do Rio – onde foi encontrado depois pela polícia.

Versão da polícia
Apesar da confissão e da implicação de um terceiro elemento, a polícia diz não acredita que haja uma terceira pessoa envolvida, e que essa versão é fantasiosa.

De acordo com depoimentos e investigações realizadas pela DDPA, apenas Jeander e Bruno de Souza Rodrigues estavam no local com Jeff e tiveram participação na morte. Ambos foram indiciados nesta quarta-feira por homicídio triplamente qualificado.

Bruno tamém teve sua prisão pedida para a Justiça.

Procurado pelo g1, o advogado Jairo Magalhães, que representa a família do ator, disse que a versão é fantasiosa e tem por objetivo tentar desqualificar a vítima.

“Não existe elemento na investigação que aponte para uma outra pessoa na cena do crime. O que ele está tentando fazer é desqualificar a vítima, como se isso justificasse um homicídio brutal e premeditado”, disse.
Jeander Vinícius da Silva Braga tem passagem por roubo, e estava em período de prova, em que teria que cumprir uma série de medidas determinadas pela Justiça por dois anos.

Os dois indiciados são:

Bruno de Souza Rodrigues, que já era considerado suspeito no caso e, segundo a família de Jeff, estava com cartões os bancários e as chaves do carro e da casa do artista. Também foi Bruno quem registrou o desaparecimento do ator;
Jeander Vinicius da Silva Braga – segundo as investigações, ele tinha uma relação próxima com a vítima; até a última atualização desta reportagem, não haviam sido divulgados detalhes sobre a suposta participação dele no crime.
Apenas Bruno já tinha sido divulgado como suspeito no caso. Jeander, segundo as investigações, conhecia Jeff e tinha uma relação próxima com a vítima. O caso foi encaminhado ao Ministério Público.

Uma das linhas da investigação diz que o ator teria sido enganado com a promessa de entrar em uma novela.

Bruno de Souza Rodrigues trabalhou na Globo até 2018, quando foi demitido pela empresa. Em nota, a Globo informou que forneceu neste domingo (28) à polícia os detalhes do desligamento.

Além dessa, a Delegacia de Descoberta de Paradeiros, no Rio, já fez um cruzamento de informações que indicam que Jeff Machado, de 44 anos, morreu no fim de janeiro (leia mais abaixo nesta reportagem). Essa é a data apontada pela mãe do ator, Maria das Dores Machado, para o fim da comunicação direta com ele e o início da troca de mensagens só por texto no WhatsApp.

Compras com cartão da vítima
A fatura do cartão de crédito do mês de fevereiro de 2023 do ator Jeff Machado foi entregue à polícia na segunda-feira (29). Ela mostra movimentações suspeitas após o dia 23 de janeiro e nos dias que se seguiram:

1ª Transação no dia 23/01/2023 de R$ 22;
2ª Transação no dia 25/01/2023 de R$ 680;
3ª Transação no dia 25/01/2023 de 2 parcelas de R$ 750;
4ª Transação no dia 26/01/2023 de 3 parcelas de R$ 1.063,34.

Totalizando uma movimentação suspeita de R$ 5.392,02.

“Achamos que essa fatura pode conter pistas que podem ajudar a polícia a identificar os envolvidos na morte do Jeff ou trazer outros elementos importantes para a investigação”, disse Jairo Magalhães, advogado que representa a família do ator.
Além da movimentação no cartão de crédito, houve também movimentação na conta bancária do ator, o que também já foi notificado à polícia.

“Falei com o meu filho no dia do aniversário dele, dia 19 de janeiro, e no dia 21. A partir do dia 23 eu ligava para ele e ele dizia: ‘Não posso falar, mãe’. E respondia umas coisas escritas no WhatsApp que eu sentia que não era o meu filho que estava escrevendo”, contou.
Um amigo de Jeff, o veterinário André Meirelles, contou que falou com ele no dia 22 de janeiro, por conta de seu aniversário, que Jeff o teria parabenizado.

Depois, no episódio do encontro dos cachorros em bairros da Zona Oeste, André teria sido acionado via WhatsApp, supostamente por Jeff, para ajudar a acolher os animais.

Jeff Machado: veja as pistas da polícia que levaram a amigo suspeito de envolvimento no assassinato do ator

Polícia aponta Bruno de Souza Rodrigues como um dos suspeitos do crime. Segundo as investigações, ele teria sublocado a casa em que o corpo de Jeff Machado foi encontrado um mês antes do desaparecimento do ator.

Amigo de Jeff Machado, Bruno de Souza Rodrigues é apontado pela polícia como um dos suspeitos do assassinato do ator, cujo corpo foi encontrado em 22 de maio, concretado no piso de uma casa na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Segundo Jairo Magalhães, advogado da família, uma das linhas de investigação no momento é que Jeff teria sido enganado com a promessa de entrar em uma novela.

Veja a linha do tempo do caso
Maria das Dores, mãe de Jeff, afirma que o ator teria desembolsado mais de R$ 12 mil com esse objetivo.

“Pagou R$ 12 mil, depois R$ 2 mil porque tinha que fazer uma filmagem, mais R$ 2 mil porque não sei o que… Você tem um sonho que ele é tão forte dentro de ti que a impressão é que você fica cego pra realidade”, diz.

Bruno de Souza Rodrigues trabalhou na Globo até 2018, quando foi demitido pela empresa. Em nota, a Globo informou que forneceu neste domingo (28) à polícia os detalhes do desligamento.

O advogado da família diz ainda que Bruno estava com os cartões de banco da vítima. “Continuou tendo movimentações nas contas dele mesmo ele desaparecido”, afirma Magalhães, acrescentando que os valores retirados somam cerca de R$ 5 mil.

Além disso, segundo as investigações, a casa em que o corpo de Jeff foi encontrado, a 20 quilômetros da casa do ator, foi sublocada por Bruno um mês antes do desaparecimento.

Bruno também registrou o desaparecimento de Jeff na delegacia e estava com as chaves da casa e do carro de Jeff, porque, segundo ele informou em depoimento à polícia, o ator iria fazer um trabalho em São Paulo.

A defesa de Bruno Rodrigues disse que aguarda com serenidade o avanço das investigações.

Mensagens provocaram desconfiança
Maria das Dores conta que ouviu a voz do filho pela última vez em 23 de janeiro, quatro dias após o aniversário do ator, que completou 44 anos em 2023. Ainda naquele mês, Jeff foi dado como desaparecido e, segundo as investigações, possivelmente já estava morto.

A mãe mora em Santa Catarina e recebia ligações diárias do filho, mas depois de 23 de janeiro as chamadas pararam. No lugar dos telefonemas, Maria passou a receber mensagens, o que lhe provocou desconfiança.

As suspeitas dos familiares de estarem falando com um impostor foram confirmadas ao receberem a notícia de que os oito cachorros da raça Setter tinham sido abandonados. Jeff era apaixonado pelos animais.

Dos oito cães, um está até hoje desaparecido, outro morreu atropelado na movimentada Avenida Brasil, enquanto um terceiro foi encontrado muito debilitado e também não resistiu. Os demais estão saudáveis e ganharam novos lares assim que foram resgatados por uma ONG protetora de animal.

Como os animais tinham chip de identificação, a entidade descobriu que pertenciam a Jeff, fato que ajudou a polícia a desvendar mais detalhes do crime ardiloso e cruel.